domingo, 19 de agosto de 2012

As drogas e as doenças psíquicas.


Metade dos pacientes com dependência química tem doenças psíquicas associadas, aponta estudo da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. Foram analisados os perfis de 1,3 mil pacientes tratados nos últimos três anos na Unidade Estadual de Álcool e Drogas do Hospital Lacan, em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. Entre as mulheres, o percentual é ainda maior, 56% apresentaram doenças como depressão, bipolaridade e transtorno obsessivo-compulsivo. Entre os homens o índice foi 50,1%.
De acordo com Sérgio Tamai, coordenador da área de saúde mental da secretaria, a pesquisa confirma estudos internacionais sobre o mesmo tema e aponta para a necessidade de desenvolver uma assistência especializada para esses pacientes. “Não é um perfil de população desprezível. É necessário um ambiente mais protegido e profissionais que tenham especialização em droga dependência, mas também têm que estar familiarizados com o atendimento de pacientes com esses outros transtornos psiquiátricos”, disse.
O coordenador destacou a necessidade de um ambiente adequado, tendo em vista que pacientes depressivos com associação ao uso de drogas, por exemplo, são mais propensos ao suicídio. “Um indivíduo, internado em um hospital geral, pode tentar se matar saltando pela janela, e não faz parte da rotina desses hospitais ter esse tipo de preocupação. É preciso ter pessoal especializado”, declarou.
Tamai destacou ainda a importância de cuidados específicos com pacientes esquizofrênicos. “Os estudos mostram que metade desses pacientes tem uma droga dependência associada. Nesse caso, a droga em si modifica o padrão da doença. O indivíduo esquizofrênico que não é violento pode se tornar [violento] a partir do uso de cocaína, por exemplo. É um dado que precisa ser levado em consideração também”, explicou.
As especificidades no tratamento de dependentes químicos com associação a doenças psíquicas ocorrem também no tempo de internação dos pacientes, informou o coordenador. “Essa população tem um tratamento um pouco mais complicado. Mais do que triplica o tempo necessário de internação”. Segundo Tamai, o indivíduo que tem droga dependência isoladamente demora de uma semana a dez dias internado. Os pacientes com doença psíquica associada ficam internados de cinco a seis semanas.
A relação entre a dependência química e as doenças psíquicas ocorre quando a pessoa consome entorpecentes ou álcool em excesso e desenvolve, posteriormente, transtornos mentais. “O indivíduo que tem um transtorno mental está mais vulnerável a uma droga dependência”, declarou. Ele usou, como exemplo, o caso de um indivíduo com transtorno de ansiedade que consome bebida alcoólica para relaxar. O uso, no entanto, piora o quadro de ansiedade e cria um círculo vicioso, fazendo com que seja ingerida uma quantidade cada vez maior. “É a gênese do quadro de dependência”, destacou.
Segundo ele, o contrário também ocorre, quando o uso de entorpecentes leva à doenças psíquicas. O coordenador cita estudos internacionais que relacionam o uso de maconha à esquizofrenia, por exemplo. “Usuários que utilizam pelo menos uma vez por semana, dobram a chance de ter a doença nos cinco anos subsequentes”, disse. Ele destacou que esse risco é ainda maior se a pessoa tem histórico familiar de esquizofrenia.
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Fonte: UOL

Sem controle remoto.


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O ovo e as verdades transitórias da Medicina


Sim, eles conseguiram de novo. Mais uma vez a divulgação de um estudo científico nos faz pensar que, se a medicina é uma ciência de verdades transitórias, parece que ultimamente elas andam mais transitórias do que nunca. A ponto de ninguém mais saber no que e em quem acreditar.
Quem melhor traduziu a perplexidade do público diante da constante divulgação de contraditórias pesquisas médicas foi o escritor Luis Fernando Verissimo, na crônica Ovo, publicada há alguns anos. Por muito tempo, o ovo foi considerado um dos maiores vilões das artérias. Até que os cientistas mudaram de ideia. Quem, como Verissimo, reprimiu o prazer supremo de furar a gema de um ovo frito sobre um punhado de arroz, não foi indenizado.
Quase sempre as mensagens parecem contraditórias, mas são fruto do avanço do conhecimento. O melhor a fazer é respirar fundo, tentar entender e aceitar que a vida é feita de mudanças. Nesta semana, o colesterol voltou a nos confundir.
Durante décadas os médicos recomendaram um estilo de vida saudável (alimentação balanceada e atividade física) para elevar os níveis de HDL (o chamado colesterol bom). Quanto mais elevada essa fração de colesterol no sangue, menor seria o risco de aparecimento de doenças cardiovasculares. 
Segundo essa teoria, amplamente aceita e divulgada, o HDL funcionaria como uma espécie de detergente das artérias. O impacto dele sobre o sistema cardiovascular seria tão grande a ponto de reduzir eventos como infarto e derrame. Nesta semana, uma pesquisa publicada na revista científica The Lancet demonstrou que a coisa não é tão simples assim.
Os cientistas não questionam o fato de que menos doenças cardiovasculares são identificadas no grupo de pessoas com altos níveis de colesterol bom. Isso foi comprovado por sucessivos estudos. A informação importante que o novo trabalho traz é que talvez o colesterol bom não seja o responsável por essa redução de risco.
Ou seja: a pessoa pode ter bastante colesterol bom e também ter baixo risco de sofrer um problema cardiovascular. Sem, no entanto, que um fato seja a causa do outro.
O trabalho liderado por Sekar Kathiresan, diretor do departamento de medicina preventiva do Massachusetts General Hospital e geneticista do MIT, foi baseado numa importante base de dados genéticos, composta por informações de mais de 100 mil pessoas.   
Cada um de nós herda uma determinada combinação genética que determina a quantidade de colesterol bom que nosso organismo é capaz de produzir. É por isso que, independentemente do estilo de vida, algumas pessoas têm uma tremenda facilidade de produzir o bom colesterol ao longo da vida.
Os cientistas esperavam confirmar que os altos níveis de HDL fossem os responsáveis diretos pela redução do risco de infarto. Para a surpresa deles, não foi o que verificaram. O risco foi o mesmo nos dois grupos: entre as pessoas com a variação genética que garante maior produção de HDL e entre as que não têm essa variação.
O que isso significa para os pacientes? “O importante aqui é entender que elevar os níveis de HDL não é garantia de redução de risco de infarto”, afirma Kathiresan.
Ou seja: tomar remédios para elevar o HDL pode não fazer qualquer diferença. Alguns estudos clínicos em andamento estão demonstrando que medicamentos criados com o único fim de elevar o colesterol bom não são eficazes na tarefa de evitar um infarto e outras doenças cardiovasculares.
Quando os pacientes de Kathiresan perguntam o que fazer para aumentar seus níveis de colesterol bom, ele responde: “Menos colesterol bom significa que seu risco de infarto é maior. Mas aumentar o HDL pode não alterar esse risco.”
A tão propalada relação de causa e efeito entre colesterol bom e redução de infarto parece não existir. Mas é importante lembrar que outros problemas graves podem estar relacionados com baixos níveis de colesterol bom. Alguns deles: obesidade, sedentarismo, tabagismo, resistência à insulina.  
Que esses quatro causam infarto e derrame ninguém questiona. Pelo menos por enquanto... O que podemos fazer, aqui do lado de fora dos laboratórios, é assumir o compromisso diário de comer melhor, espantar a preguiça e se respeitar antes de tudo.
(Cristiane Segatto, na revista Época)

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