sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

A síndrome do ninho vazio.






Uma amiga está triste porque sua filha se mudou para Nova York. 

Foi estudar na Universidade Columbia e não deve voltar tão cedo. 

O filho mais velho, também há pouco, foi trabalhar em outra cidade. 

Os dois moravam com ela. 

De repente, minha amiga ficou sozinha em casa. 

Está passando pela "síndrome do ninho vazio", uma figura da 

psicologia para definir a depressão que se apossa de alguns pais –

ou, quase sempre, mães– quando seus filhos vão à vida. 

Estava pensando nisso quando, pouco antes do Natal, percebi 

certos movimentos alados no terraço. 

Uma rolinha ia e vinha, com matinhos no bico, e pousava numa 

viga alta do caramanchão. Mesmo à distância, constatei que 

estava construindo um ninho. No Natal, o ninho ficou pronto. 

Ela sossegou e sentou-se nele pelos dias seguintes. Batizei-a 

de Lola, a Rola, e saboreei a expectativa de, em breve, ser avô
.
Não entendo de passarinhos, mas calculei que, por sua 


circunspecção no ninho, Lola devia estar sentada sobre três ou 

quatro ovos –e, se assim fosse, merecia respeito pelo que lhe 

devia ter custado botá-los para fora. 

Mas Silvania, minha funcionária, aproveitou-se da temporária 

ausência de Lola – numa das poucas vezes em que ela saiu, 

certamente para ir às compras –, subiu a um banquinho, espiou 

o conteúdo do ninho e me informou de que eu era avô de um 

único ovo. Bem, não sejamos soberbos, um já estava bom. 

Dias depois, constatamos que, em certos momentos, o rabo 

e a cabecinha para fora do ninho eram menores. O bebê nascera. 

Dei-lhe o nome de Lolita, a Rolita, e esperei que ela e sua mãe 

nos brindassem com algumas piruetas, mesmo desajeitadas, 

como parte do aprendizado aéreo de Lolita.
. 
Que nada!. Ontem, Lola, a Rola, e Lolita, a Rolita, foram 

embora bem cedo. E sem se despedir. 

Agora entendo a síndrome do ninho vazio.


SÉRGIO GARSCHAGEN, jornalista

Resentimentos