Uma laranja e meio copo de suco da fruta contêm a mesma quantidade de calorias: 40. O suco, porém, é menos saudável que a fruta. Por quê? Ambos são ricos em açúcares e ambos têm carga glicêmica considerável. Mas, sem as fibras que a fruta contém, o suco puro obriga o pâncreas a produzir insulina - hormônio responsável por transportar a energia para dentro das células - muito rapidamente, para contrabalançar o açúcar circulante. As fibras contidas na fruta atrasam esse processo metabólico, o pâncreas trabalha menos abruptamente, sem choques para o organismo. Em um efeito benéfico adicional, para serem digeridas as fibras vão obrigar o organismo a gastar energia que, de outra maneira, seria estocada no corpo na forma de gordura. "O suco da fruta sem as fibras é o que leva ao aporte exagerado de insulina", diz o endocrinologista Freddy Eliaschewitz, diretor do Centro de Pesquisas Clínicas de São Paulo. Esses picos de insulina duram pouco, logo a sensação de saciedade se esvai e a fome volta com força total. O que parece uma refeição frugal é uma bomba energética para o organismo. As fibras contidas nas frutas prolongam a sensação de saciedade e a pessoa acaba comendo menos.
Embora estudos de vanguarda já apontassem desde meados do século passado as diferenças nos processos pelos quais o organismo lida com o açúcar na ausência das fibras e na presença delas, esse conhecimento só se tornou inquestionável há pouco tempo. Os Vigilantes do Peso, filial brasileira da maior empresa de dietas do mundo, a Weight Watchers International, vão pôr em prática a partir desta semana um novo programa de emagrecimento que reflete esse avanço. Ele ignora a quantidade de calorias contida nos alimentos. "Contar calorias é inútil", diz David Kirchhoff, presidente da instituição. A nova dieta mantém o modelo de pontos em vigor desde 1997 no mundo e que leva em conta o peso, a altura, o sexo e a idade da pessoa. A inovação é o critério adotado para chegar à pontuação final. Entra na conta, agora, o fato de que o processo metabólico de quebra de carboidratos consome até 20% das calorias contidas na comida, enquanto a quebra da gordura gasta só 5% do teor energético total.
Como regra, o novo programa incentiva o consumo maior de proteínas e de fibras, por elas prolongarem a sensação de saciedade. Por isso, embora tenham a mesma quantidade de calorias (105), um filé de 100 gramas de pescada branca equivale a 3 ProPontos, como foi batizada a nova unidade de medida dos Vigilantes, enquanto uma coxinha de frango pequena equivale a 8. Meio copo de suco de laranja equivale a 2 ProPontos. Uma laranja, a zero. O mesmo acontece na comparação entre um bombom grande (3 ProPontos) e um lanche composto de um copo de iogurte desnatado (2 ProPontos) e uma maçã (zero ProPonto), ambos com cerca de 110 calorias. Notou alguma semelhança entre os valores atribuídos às frutas? Pois é. Elas não contam pontos. Isso se deve ao alto teor de fibras e à sensação de saciedade que produzem. Por causa da quantidade de gordura, a única exceção entre as frutas é o abacate (a um quarto da fruta foram atribuídos 3 ProPontos). Pela nova abordagem dos Vigilantes do Peso, a fibra é o nutriente-mocinho da história e a gordura o maior vilão.
Apesar de extensa, a lista de pontos dos Vigilantes não consegue abarcar todo e qualquer alimento disponível nas prateleiras dos supermercados. Por esse motivo, quem adere à dieta rigorosamente precisa ter em mãos a calculadora de papel que faz parte do kit básico fornecido pela companhia. Uma calculadora eletrônica especial deve ser lançada ainda em janeiro e será vendida separadamente por 29 reais. Elas funcionam no caso de itens industrializados, que, por lei, trazem com eles uma tabela que discrimina a composição do alimento. Para saber quanto se está comendo, então, é necessário colocar na ferramenta - seja a digital, seja a analógica - as quantidades dos quatro macronutrientes considerados pela dieta: carboidrato, proteína, gordura e fibra. Tem acesso a esse material quem participa das reuniões semanais, que ocorrem em onze estados brasileiros e no Distrito Federal a um custo de 25 reais por encontro mais 50 reais de matrícula, ou quem compra o programa a distância (189 reais). Nos Estados Unidos, onde o novo programa é utilizado pelos clientes dos Vigilantes há um ano, a média de emagrecimento é de 800 gramas por semana.
"A dieta dos Vigilantes é uma boa forma de conquistar o emagrecimento", afirma a nutricionista Juliana Baptista, do Centro de Pesquisas Clínicas de São Paulo. Ela funciona principalmente porque permite comer de tudo e emagrecer evitando o efeito rebote de quem se priva das refeições de que mais gosta, mas, é claro, não serve para 100% dos gordinhos. Embora a cota de alimentos a ser consumida varie de pessoa para pessoa - sendo 26 a mínima e 71 a máxima -, o processo de emagrecimento é algo muito mais complexo do que isso. É preciso levar em consideração também a forma como cada indivíduo estoca gordura em seu corpo e o grau de obesidade. "Quem tem mais acúmulo de gordura na região abdominal do que nos quadris, o chamado 'tipo maçã', deve tomar mais cuidado com o consumo de carboidrato e gordura do que aqueles que estocam energia nas coxas, o 'tipo pera'", diz o endocrinologista Geraldo Medeiros, da Universidade de São Paulo. Além disso, os muito obesos, em geral, precisam aliar regime, prática regular de exercícios físicos, remédios para controlar o apetite e acompanhamento multidisciplinar (médico, nutricional e psicológico).
As descobertas sobre as diferentes formas de absorção dos nutrientes contidos nos alimentos levaram o endocrinologista Alfredo Halpern, criador de uma dieta de pontos em prática há quatro décadas no Brasil, a rever sua fórmula. Baseada na quantidade de calorias contida em cada alimento, a lista do médico paulista simplificou a numeralha em que se transformou a vida daqueles que emagreciam contando calorias. Para isso, ele criou uma lista com quase 2 000 alimentos em que 1 ponto equivale a 3.6 calorias e liberou seus pacientes para ingerir o que bem entendessem desde que respeitassem o limite determinado por ele de acordo com o perfil individual. Deu tão certo que seu modelo se espalhou por consultórios de milhares de médicos. Halpern reviu sua fórmula no livro intitulado A Nova Dieta dos Pontos, publicado pela Editora Abril, que também edita VEJA. O novo livro traz informações específicas sobre a quantidade de gordura trans, a forma hidrogenada altamente nociva da substância. Apesar da revisão, Halpern continua fiel a seu lema: "Só engorda quem come mais do que gasta". A novidade, porém, é que a presença maior de fibras e proteínas nos alimentos obriga o organismo a gastar mais energia.
Fonte: VEJA