Durante um almoço antes de uma de minhas palestras, meu amigo Nelson Bastos conta que foi aos Estados Unidos nas férias. No programa, “assistir com meu filho a um jogo de basquete da NBA em Orlando, no Amway Arena, um espetacular ginásio de esportes”. Ainda no Brasil, Nelson comprou os ingressos pela internet e embarcou para Nova Iorque. No dia de ir para Orlando, uma nevasca impediu o vôo e eles perderam o jogo. Diante do inevitável, Nelson fez o que todos nós brasileiros fazemos: conformou-se.
Alguns dias depois, já de volta ao Brasil, ele recebe um email da Amway Arena dizendo que perceberam que ele não foi assistir ao jogo. E gostariam de saber a razão. Surpreso, Nelson relatou o acontecido. Mais surpreso ainda, recebeu uma resposta dizendo que o ingresso que ele havia comprado incluía um seguro para casos assim. E perguntando:
- O senhor gostaria de utilizar o seguro?
Nelson concordou e recebeu pelo correio um cheque de cerca de 120 dólares, cobrindo o prejuízo com o qual ele estava conformado.
Putz! Para nós que temos que sair no tapa para tirar o bicão da cadeira numerada que adquirimos nos principais estádios do Brasil pagando uma pequena fortuna; que temos que usar um banheiro imundo; que pagamos uma nota para um guardador de carros não riscar nosso automóvel; que corremos risco de vida a cada vez que vamos a um estádio, o relato do Nelson é peça de ficção. Científica.
Essa história tem muito a dizer com relação à competência técnica e profissional dos norte americanos. Alguém lá criou um programa capaz de perceber que o Nelson não apareceu para ver o jogo. Provavelmente o mesmo programa encontrou os dados dele no registro feito para a compra dos ingressos e disparou um email para averiguar a razão. E diante da explicação (que deve ter sido lida por uma pessoa de carne e osso), alguém não hesitou em oferecer o ressarcimento, mesmo sem o Nelson pedir. Aliás, ele desconhecia o lance do seguro... Não é fantástico?
Pois é. Mas sabe o que realmente me chamou a atenção? Não foi a competência técnica ou profissional. Foi o que eu chamo de “competência moral.”
Alguém tomou a decisão moral de ressarcir quem foi prejudicado, o que de certa forma é de se esperar. Mas a verdadeira profundidade da decisão moral foi: não vamos esperar que a pessoa reclame, vamos nos antecipar e avisar que ela tem direitos e perguntar se quer valer-se deles.
Você consegue imaginar uma situação assim aqui no Brasil? Deixe de lado a questão estrutural, se temos ou não computadores e gente capaz para implementar um processo idêntico. Concentre-se na pergunta que realmente interessa: temos a competência moral para respeitosamente avisar a pessoa que ela tem um direito? Ou vamos optar pelo velho: “Deixa quieto. Ele nem vai perceber...”?
Pois é. Competência técnica e profissional tem jeito, o dinheiro pode comprar. Mas competência moral, ah, isso vem lá de um lugar que o dinheiro não alcança.
Por isso vai demorar um pouco pra gente chegar lá.
Luciano Pires
Alguns dias depois, já de volta ao Brasil, ele recebe um email da Amway Arena dizendo que perceberam que ele não foi assistir ao jogo. E gostariam de saber a razão. Surpreso, Nelson relatou o acontecido. Mais surpreso ainda, recebeu uma resposta dizendo que o ingresso que ele havia comprado incluía um seguro para casos assim. E perguntando:
- O senhor gostaria de utilizar o seguro?
Nelson concordou e recebeu pelo correio um cheque de cerca de 120 dólares, cobrindo o prejuízo com o qual ele estava conformado.
Putz! Para nós que temos que sair no tapa para tirar o bicão da cadeira numerada que adquirimos nos principais estádios do Brasil pagando uma pequena fortuna; que temos que usar um banheiro imundo; que pagamos uma nota para um guardador de carros não riscar nosso automóvel; que corremos risco de vida a cada vez que vamos a um estádio, o relato do Nelson é peça de ficção. Científica.
Essa história tem muito a dizer com relação à competência técnica e profissional dos norte americanos. Alguém lá criou um programa capaz de perceber que o Nelson não apareceu para ver o jogo. Provavelmente o mesmo programa encontrou os dados dele no registro feito para a compra dos ingressos e disparou um email para averiguar a razão. E diante da explicação (que deve ter sido lida por uma pessoa de carne e osso), alguém não hesitou em oferecer o ressarcimento, mesmo sem o Nelson pedir. Aliás, ele desconhecia o lance do seguro... Não é fantástico?
Pois é. Mas sabe o que realmente me chamou a atenção? Não foi a competência técnica ou profissional. Foi o que eu chamo de “competência moral.”
Alguém tomou a decisão moral de ressarcir quem foi prejudicado, o que de certa forma é de se esperar. Mas a verdadeira profundidade da decisão moral foi: não vamos esperar que a pessoa reclame, vamos nos antecipar e avisar que ela tem direitos e perguntar se quer valer-se deles.
Você consegue imaginar uma situação assim aqui no Brasil? Deixe de lado a questão estrutural, se temos ou não computadores e gente capaz para implementar um processo idêntico. Concentre-se na pergunta que realmente interessa: temos a competência moral para respeitosamente avisar a pessoa que ela tem um direito? Ou vamos optar pelo velho: “Deixa quieto. Ele nem vai perceber...”?
Pois é. Competência técnica e profissional tem jeito, o dinheiro pode comprar. Mas competência moral, ah, isso vem lá de um lugar que o dinheiro não alcança.
Por isso vai demorar um pouco pra gente chegar lá.
Luciano Pires
No Portal Café Brasil.
Quando teremos esta competência moral e ética no nosso Brasil?
É algo, infelizmente, cada vez mais raro, nesta terra onde levar vantagem é a lei.
JJ
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