Aos 17 anos, eu escrevi um discurso intitulado “Quando Você Chegar ao Fim dos Seus Dias, Será Capaz de Escrever Seu Próprio Epitáfio?”. Ele refletia a postura diante da vida que eu havia adotado após minha mãe falecer precocemente de câncer, aos 49 anos. Eu escolhi viver cada dia como se fosse meu último – mas com um olho vigilante no futuro, caso não fosse.
Meu objetivo era, e ainda é, morrer sem arrependimentos.
Eventualmente, a maioria de nós aprende lições valiosas sobre como conduzir uma vida de sucesso e satisfação. Mas, para muitas pessoas, o aprendizado vem tarde demais para ajudá-las a evitar erros dolorosos e décadas de esforço e tempo perdidos.
Nos anos recentes, por exemplo, muitos jovens talentosos têm negado suas verdadeiras paixões, escolhendo, em vez disso, correr atrás de carreiras que prometem grandes e rápidos ganhos financeiros. As altas taxas de divórcio expressam uma impulsividade para se casar e um comprometimento tênue aos votos de “até que a morte nos separe”.
E uma miríade de prescrições de drogas antidepressivas e ansiolíticas refletem uma tendência generalizada de se remoer pelas coisas pequenas, um fracasso em reconhecer fontes atemporais de felicidade e uma dependência em aquisições materiais que providenciam apenas prazer temporário.
E eis que aparece uma fonte de ajuda, se alguém estiver disposto a dar ouvidos enquanto ainda há tempo para assumir ações corretivas. O livro 30 Lessons for Living (“30 Lições para Viver”, ainda sem tradução no Brasil) oferece conselhos práticos provenientes de mais de 1 mil norte-americanos mais velhos, de diferentes estratos econômicos, educacionais e ocupacionais. Eles foram entrevistados como parte do Cornell Legacy Project.
Seu autor, Karl Pillemer, professor de Desenvolvimento Humano na Faculdade de Ecologia Humana, da Universidade de Cornell, e de Gerontologista na Faculdade Médica Weill Cornell, chama seus objetos de estudo de “os especialistas”, e seu conselho se baseia naquilo que fizeram certo e no que fizeram errado em suas vidas. Muitos dos entrevistados podem ser vistos no endereço legacyproject.human.cornell.edu.
Confira quadro nesta página sobre sete tópicos abordados pela pesquisa de Pillemer.
Tradução de Adriano Scandolara.
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Sabedoria
Confira o que “os especialistas” ouvidos pelo Cornell Legacy Project dizem sobre sete tópicos:
Casamento
Um casamento satisfatório que dure por uma vida é mais provável de resultar de parceiros que sejam fundamentalmente semelhantes e compartilhem os mesmos valores e objetivos básicos. Embora o amor romântico reúna a maioria dos casais no início, o que os mantêm juntos é uma amizade duradoura, uma habilidade de comunicação, uma disposição de dar e receber, e um compromisso com a instituição do casamento, bem como de um com o outro.
Profissão
Nem um único indivíduo entre os mil entrevistados pelo Legacy Project disse que a felicidade provinha de se esforçar no trabalho tanto quanto possível para fazer dinheiro e comprar o que se quisesse. Em vez disso, o ponto de vista quase universal foi resumido por um ex-atleta de 83 anos que trabalhou durante décadas como um treinador e recrutador atlético: “A coisa mais importante é estar envolvido numa profissão que você absolutamente ame, e com a qual você anseie ir trabalhar todo dia”. Embora possa demorar um tempo para se chegar a esse emprego ideal, não se deve desistir de procurar um que lhe faça feliz.
Filhos
As exigências da vida moderna com frequência têm tido um efeito negativo na vida familiar, especialmente quando as buscas econômicas limitam o tempo que os pais têm para passar com seus filhos. O mais importante, disseram os mais velhos, é passar mais tempo com seus filhos, mesmo que você tenha que fazer sacrifícios para isso. Participe de suas atividades e faça coisas com eles que lhes interesse. O tempo passado em sua companhia permite aos pais detectar problemas antes de eles se desenvolverem e passar adiante valores importantes. Embora seja normal preferir um dos filhos aos outros, é crucial não fazer comparações, nem demonstrar favoritismo. A disciplina é importante quando necessária, mas o castigo físico é raramente eficaz e pode resultar em crianças agressivas e antissociais.
Envelhecimento
“Abrace-o. Não enfrente-o. Envelhecer é ao mesmo tempo uma atitude e um processo”, disse um senhor de 80 anos. O conselho dos especialistas aos jovens: “Não perca seu tempo se preocupando com o envelhecimento”.
A maioria descobriu que a idade avançada excedeu vastamente suas expectativas. Mesmo aqueles com sérias doenças crônicas desfrutaram de uma sensação de calma e contentamento. Uma senhora disse: “Cada década, cada idade tem oportunidades que não estavam lá no tempo anterior”.
Contatos sociais
Evite ficar isolado. Quando um convite for feito, diga sim. Se esforce para se manter engajado e aproveite oportunidades para aprender coisas novas. Embora muitos tenham sido inicialmente relutantes, aqueles que se mudaram para uma comunidade de convivência da terceira idade descobriram mais liberdade para desfrutar de atividades e relacionamentos do que tinham antes.
Para aqueles que se preocupam com a morte, estes homens e mulheres disseram que o melhor antídoto é fazer planos: organizar as coisas, deixar que os outros saibam de seus desejos e arrumar tudo para minimizar o fardo sobre os herdeiros.
Arrependimento
“Sempre seja honesto” foi o conselho dos mais velhos para evitar remorso mais tarde na vida. Aproveite as oportunidades e abrace novos desafios. E viaje mais quando for jovem em vez de esperar até que as crianças tenham crescido ou você se aposentar. Como Pillemer resumiu o ponto de vista dos mais velhos: “Viajar compensa tanto que deve tomar precedência sobre outras coisas com as quais os jovens gastam”. Crie uma lista de coisas para fazer antes de morrer e comece a realizá-la.
Felicidade
Quase como unanimidade, os mais velhos veem a felicidade como uma escolha, não o resultado de como a vida lhe trata. Um senhor de 75 anos disse: “Você não é responsável por todas as coisas que lhe acontecem, mas você está completamente no controle de sua atitude e reação a elas”. Um senhor de 84 anos disse: “Adote uma política de ser alegre”. Mesmo que suas vidas tenham durado por nove décadas, os mais velhos consideram a vida curta demais para ser desperdiçada com pessimismo, tédio e desilusão.
Fonte: The New York Times (Tradução de Adriano Scandolara).